Dotado de uma voz personalíssima e urdindo argumentos inesperados, Czekster engendra, neste livro, um caleidoscópio de estórias que transformam e refratam umas às outras, à medida que a leitura avança. Os contos desse livro podem ser lidos como uma série de pesadelos interligados, sob a toada de alguns temas recorrentes. Uma das facetas desse pesadelo múltiplo é o antigo vanitas vanitatum do Eclesiastes: a efemeridade das coisas humanas; outra face, menos explícita, talvez seja a autorreflexão perturbadora da própria literatura ‒ ou, num sentido mais amplo, o poder ao mesmo tempo criativo e caótico da imaginação, com suas constantes tentações de esperança e desespero. Se, às vezes, Czekster parece flertar com certo realismo urbano, à Rubem Fonseca, os meandros de seu texto logo reafirmam sua filiação à literatura fantástica, na imortal tradição de Poe e Maupassant. Os personagens de Czekster movem-se em um mundo sempre à beira da dissolução, da implosão ou do oblívio; é como se cada instante de suas existências fosse ameaçado por uma confluência de forças soturnas e absurdas.